
A franquia Assassin’s Creed passou por uma transformação significativa nos últimos anos. Desde o lançamento de Assassin’s Creed Origins em 2017, a Ubisoft redefiniu completamente a série, abandonando a fórmula tradicional de ação-aventura para abraçar elementos de RPG mais profundos. Origins nos levou ao Egito Antigo e estabeleceu as bases para essa nova direção. Em seguida, Odyssey expandiu ainda mais esses elementos RPG na Grécia Antiga, com um mapa gigantesco e sistemas de progressão mais complexos. Valhalla continuou essa tendência na Inglaterra medieval, refinando algumas mecânicas, mas mantendo a escala épica.
Em 2023, Assassin’s Creed Mirage surgiu como uma espécie de retorno às origens, com um jogo mais contido e focado em stealth. E agora, finalmente, a franquia atende a um dos pedidos mais antigos dos fãs: um jogo ambientado no Japão feudal. Assassin’s Creed Shadows chega como o quinto título dessa nova era da série, trazendo dois protagonistas únicos e uma ambientação que parece feita sob medida para a franquia.
Desenvolvido pela Ubisoft Quebec, o estúdio responsável por Odyssey, Shadows enfrentou alguns atrasos em seu lançamento, o que gerou expectativas ainda maiores. Será que a espera valeu a pena? Vamos descobrir.
Ambientação e Protagonistas: O Japão Feudal Ganha Vida
Assassin’s Creed Shadows se passa no final do período Sengoku (1467-1600), especificamente em 1579, uma era marcada por guerras civis, instabilidade política e a luta pela unificação do Japão. O jogo nos apresenta dois protagonistas distintos: Naoe, uma ninja (shinobi) de Iga, e Yasuke, um samurai de origem africana que serviu ao lorde Oda Nobunaga – sendo este o primeiro protagonista baseado em uma figura histórica real na franquia.
Yasuke realmente existiu e foi o primeiro samurai estrangeiro documentado no Japão, servindo como guarda-costas de Nobunaga. A Ubisoft aproveitou essa fascinante figura histórica e construiu uma narrativa envolvente ao seu redor, conectando-o ao eterno conflito entre Assassinos e Templários.
O jogo começa nos apresentando a Yasuke, que conhece lorde Nobunaga e rapidamente ganha sua confiança. Após um breve gameplay com ele, somos transportados para a ação com Naoe, uma ninja habilidosa em busca de vingança. É interessante notar que, após essa introdução, passamos um longo período jogando apenas com Naoe, enquanto a história se desenvolve em torno das disputas territoriais do clã e da família dela contra os lordes da região.
O período Sengoku é rico em figuras históricas importantes, e o jogo aproveita isso muito bem. Além de Oda Nobunaga, encontramos outros nomes famosos como Hideyoshi Toyotomi e Tokugawa Ieyasu, todos integrados de forma orgânica à narrativa. A Ubisoft faz um excelente trabalho incorporando eventos históricos reais à trama fictícia do jogo, criando uma experiência que é tanto educativa quanto envolvente.
O conflito entre Assassinos e Templários, elemento central da franquia, está presente e bem integrado ao contexto japonês. Vemos como as duas facções se infiltraram nas estruturas de poder do Japão feudal, manipulando eventos históricos para seus próprios fins. À medida que acompanhamos Naoe e Yasuke por esses conflitos, inevitavelmente desenvolvemos simpatia por eles, graças à excelente caracterização feita pela Ubisoft.
Gráficos e Ambientação: Um Japão Feudal Deslumbrante…
Um dos pontos mais altos de Assassin’s Creed Shadows é, sem dúvida, sua representação visual do Japão feudal. A Ubisoft se empenhou em recriar com impressionante fidelidade monumentos históricos como o Castelo de Osaka e diversos templos da época. A atenção aos detalhes é notável, desde a arquitetura tradicional japonesa até os trajes e armas do período.
O mapa do jogo, centrado na região central do Japão, é um convite generoso para exploração. Campos de arroz, florestas de bambu, vilas rurais e cidades movimentadas – tudo foi recriado com um nível de detalhe que impressiona. A iluminação e os efeitos atmosféricos contribuem para criar cenários de tirar o fôlego, especialmente durante o nascer e o pôr do sol.
A interação com o cenário é fluida e satisfatória. Escalar templos, correr pelos telhados das casas tradicionais japonesas ou simplesmente caminhar pelas ruas movimentadas de uma cidade – tudo isso proporciona uma imersão profunda no Japão feudal. Os ambientes são tão bem construídos e visualmente impressionantes que muitas vezes você se pegará simplesmente admirando a paisagem. Vale lembrar que o jogo apresenta um sistema de estações que altera o ambiente e a jogabilidade.
Comparações feitas entre locais reais do Japão e suas contrapartes no jogo mostram o nível de dedicação da Ubisoft em recriar fielmente esses cenários históricos. É evidente que houve uma extensa pesquisa para garantir a autenticidade da ambientação.
Em termos de atividades no mundo aberto, o jogo reduziu a quantidade de missões secundárias em comparação com títulos anteriores, mas introduziu um novo minigame onde é possível construir e fortalecer bases, além de personalizá-las. Isso adiciona uma camada estratégica interessante à exploração.
No entanto, nem tudo é perfeito. Algumas missões se tornam repetitivas, como as invasões de base ou a decifração de enigmas em cavernas e ruínas. Este é um problema recorrente na franquia que, infelizmente, persiste em Shadows.
Gameplay: Duas Experiências Distintas…
O sistema de combate continua sendo um dos pontos fortes da franquia, e Shadows refina ainda mais essas mecânicas. Os combos de golpes fracos e fortes retornam, junto com o sistema de parry (defesa no momento exato do ataque inimigo), que permite quebrar a guarda do oponente e contra-atacar.
A grande novidade aqui é como o jogo implementa estilos de combate completamente diferentes para seus dois protagonistas:
Yasuke, como um samurai, é mais forte e bruto. Sua jogabilidade é focada em combate direto, com armadura pesada que lhe permite bloquear ataques indefinidamente. Para realizar um parry bem-sucedido, os jogadores devem pressionar o botão de bloqueio exatamente quando um inimigo ataca, o que desvia o golpe e deixa o adversário momentaneamente vulnerável. Seu estilo de luta é mais deliberado e poderoso, ideal para confrontos diretos.
Naoe, por outro lado, é mais rápida e furtiva. Como uma shinobi, ela não pode manter uma postura de bloqueio, dependendo de movimentos rápidos e precisos para desviar ataques. Pressionar o botão de bloqueio no momento perfeito permite que ela desvie a arma do inimigo e crie uma abertura para contra-atacar. Ela utiliza kunai, shuriken e bombas de fumaça para distrair guardas, além de um gancho para escalar e a tradicional lâmina oculta para assassinatos.
Ambos os personagens possuem ataques especiais que são extremamente úteis nas batalhas. O timing é crucial no combate, e realizar um parry ou desvio perfeito (no último segundo) temporariamente atordoa o inimigo, deixando-o vulnerável para um forte ataque subsequente. É importante notar que nem todos os ataques inimigos podem ser defendidos. Alguns golpes, indicados por um brilho vermelho, são impossíveis de bloquear e exigem que o jogador desvie para evitar danos.
Esta dualidade na jogabilidade adiciona uma camada extra de profundidade ao jogo, incentivando os jogadores a dominarem dois estilos de combate distintos. É uma evolução bem-vinda para a série, que mantém o jogo fresco mesmo após muitas horas.
No entanto, é preciso reconhecer que, sendo o quinto jogo da “era RPG” da franquia, Shadows não apresenta uma evolução tão significativa em relação aos seus predecessores. Muitas das mecânicas já são familiares para quem jogou os títulos anteriores, e algumas inovações poderiam ter sido implementadas para tornar a experiência mais distintiva.
Performance e Dublagem…
Em termos de performance no Xbox Series S, Assassin’s Creed Shadows se sai muito bem. Os testes de desempenho mostram que o jogo mantém uma taxa de quadros estável tanto no modo de desempenho quanto no modo gráfico. A Ubisoft parece ter dedicado atenção especial à otimização deste título, o que faz total sentido considerando os atrasos em seu lançamento.
A versão para Xbox Series S roda em 1440P (Quad HD), oferecendo visuais muito bonitos sem comprometer a fluidez da jogabilidade. As transições entre áreas são rápidas, e os tempos de carregamento são mínimos, aproveitando bem o hardware da nova geração.
Quanto à dublagem em português brasileiro, a Ubisoft mantém sua tradição de presentear os fãs brasileiros com localizações de alta qualidade. A equipe de dublagem conta com vozes já conhecidas do público, que emprestam seu talento para dar vida aos personagens do jogo. Os diálogos são bem traduzidos e interpretados, mantendo a imersão mesmo para jogadores que preferem a experiência em seu idioma nativo.
A localização completa, incluindo legendas e interface, torna o jogo totalmente acessível para o público brasileiro, algo que nem sempre é garantido em lançamentos AAA.
Conclusão: Vale a Pena?
Assassin’s Creed Shadows é uma excelente adição à franquia que finalmente atende ao desejo dos fãs por um jogo ambientado no Japão feudal. A Ubisoft aproveitou ao máximo esse cenário, criando uma representação visualmente deslumbrante e historicamente interessante desse período fascinante.
A dualidade entre Naoe e Yasuke oferece uma experiência de jogo refrescante, permitindo que os jogadores alternem entre estilos de combate e infiltração completamente diferentes. A narrativa, embora não revolucionária para os padrões da série, é envolvente e faz um bom trabalho integrando o conflito entre Assassinos e Templários ao contexto japonês.
Para fãs da franquia, Shadows é certamente um título que vale a pena adquirir, especialmente para aqueles que apreciam a ambientação japonesa ou têm interesse na história do período Sengoku. Para novatos, o jogo serve como uma boa introdução à série moderna de Assassin’s Creed, embora alguns elementos da narrativa maior possam não ser imediatamente compreensíveis.
Em resumo, Assassin’s Creed Shadows não reinventa a roda, mas refina e aprimora a fórmula estabelecida pelos jogos recentes da série, entregando uma experiência visualmente impressionante e jogabilidade satisfatória em um dos cenários mais requisitados pelos fãs.
Review - Assassin's Creed Shadows
Ambientação deslumbrante do Japão feudal - 9.5
Excelente dublagem! - 9.5
Dois protagonistas com estilos de jogabilidade únicos - 9.5
Sistema de combate refinado - 8.5
Narrativa envolvente que integra elementos históricos - 8.5
Algumas missões se tornam repetitivas - 7.5
Pouca evolução significativa em relação aos jogos anteriores - 7.5
Mapa grande que às vezes pode parecer vazio em certas áreas - 7.5
8.5
Muito Bom!
Assassin's Creed Shadows é uma aventura visualmente deslumbrante que finalmente leva a franquia ao Japão feudal com resultados impressionantes. Seus dois protagonistas distintos, ambientação rica em detalhes históricos e combate refinado compensam algumas missões repetitivas e a falta de grandes inovações na fórmula da série.