Primeiro dia da CCXP Worlds é marcado pela diversidade, estrelas dos quadrinhos e experiências inéditas para os fãs
A diversidade também foi tema do Artists’ Valley, que recebeu Trina Robbins, a primeira mulher a desenhar quadrinhos da Mulher Maravilha – heroína que foi tema do Creators & Cosplay Universe, apresentado hoje por Lorelay Fox e Blogueirinha. Neste primeiro dia de festival, o evento atingiu picos de 350 mil pessoas acompanhando simultaneamente o conteúdo da CCXP, o que reforça a potência do evento no meio digital e oportunidade de novos fãs estarem perto deste mundo extremamente presente no cotidiano. E o público pode seguir ligado pela madrugada, já que pela primeira vez a Oi Game Arena terá programação até as 3h da madrugada.
Em um cenário virtual – que lembra um anfiteatro construído na cratera aberta por um meteoro que caiu no deserto – Marcelo Forlani comandou o papo com Neil Gaiman. O artista falou sobre uma de suas principais criações, Sandman, personagem que fez milhares de pessoas ao redor do mundo se apaixonarem pelos quadrinhos e que, em breve, ganhará uma série própria. O autor britânico contou detalhes das gravações e deixou os fãs ainda mais ansiosos para o lançamento. “As gravações ainda estão por volta de 1916. Ainda não chegamos em 2021, ou seja, ainda não há certeza se no nosso mundo haverá ou não pandemia, mas podem ter certeza de que representaremos bem o mundo real”, adiantou. O painel também exibiu imagens exclusivas de American Gods e, no fim, o entrevistado mostrou todo seu carinho pelos brasileiros: “Eu amo o Brasil, já fui algumas vezes e em todas elas eu fui muito bem recebido”, finalizou Neil.
Em seguida, Belle Felix entrevistou a escritora Emil Ferris, autora do HQ “Minha Coisa Favorita é Monstro” e, na sequência, Jim Beaver, nome muito pedido pelos fãs da CCXP chegou ao Thunder. O ator, que eternizou o personagem Bobby Singer na série Supernatural, falou sobre sua carreira e como está se sentindo ao encarar um novo desafio em uma série, desta vez, em The Boys, da Amazon Prime. Já no painel “Vilões que amamos odiar”, a atriz Fabiana Karla entrevistou seus colegas de profissão Cláudia Raia, Mariana Ximenes e Alexandre Nero. Os atores falaram sobre suas preferências entre interpretar mocinhos ou vilões e como é esta atuação nas novelas brasileiras.
Diversidade marca todos os palcos da CCXP
No palco do Artists’ Valley, o dia começou com a apresentação do poster oficial do evento homenageando os personagens mais queridos do Brasil, a Turma da Mônica. O trabalho foi desenvolvido em conjunto com 20 artistas durante a pandemia e o resultado definido como ‘um monumento’ pelo criador Maurício de Sousa, homenageado em 2014, na primeira edição da CCXP. O trabalho uniu os famosos personagens com os traços das graphic novels do selo MSP – que já soma oito anos e 29 títulos – lendo a primeira edição da Turma da Monica que completa 50 anos este ano.
Na programação do espaço, a quadrinista e ativista Germana Viana conversou com Trina Robbins, a primeira mulher a desenhar quadrinhos da Mulher-Maravilha, e a possibilidade de interação na plataforma mostrou que havia um time feminino bem ligado no conteúdo. No chat, várias mulheres celebraram a participação da artista, que relembrou momentos de ativismo focado no feminismo. A veterana ressaltou que não foi a única a trabalhar em projetos no passado e lembrou de sua primeira HQ 100% feita por mulheres, ‘It Ain’t me Babe’, que na capa apresentava personagens como a Mulher-Maravilha, Luluzinha e Olivia Palito.
Para Gabriela Borges, criadora e editora da Mina de HQ, mídia independente e feminista, Trina tem uma enorme relevância na luta pela expressão das mulheres no segmento e Germana é uma das grandes quadrinistas brasileiras da atualidade. “Ouvir as duas conversando é uma grande inspiração e fico feliz de vê-las falando que o crescimento do mercado de quadrinhos depende do crescimento do público interessado em quadrinhos. E digo o mesmo sobre pessoas interessadas em ler quadrinhos mais diversos, feitos por mulheres, pessoas não binárias, trans, negras, não-brancas, da periferia, fora dos eixos sul-sudeste e por aí vai”.
Nas mesas virtuais as mulheres também estão marcando seu espaço. Com 17 anos e pela primeira vez na CCXP, Celina Pacheco se surpreendeu ao conseguir participar e reforçou estar muito feliz em perceber que artistas dos mais diferentes perfis e tamanhos têm vez e a oportunidade de expor seu talento e trocar experiência com o público. O espaço também proporcionou aos fãs dos quadrinhos uma aproximação por meio de 110 lives de artistas que aconteceram nesta sexta-feira no Artists’ Valley – sem contar o conteúdo do Palco. O artista Digo Freitas disse estar feliz com a solução encontrada pela organização. Antes da abertura oficial da CCXP nesta sexta, ele já desenhava um de seus personagens principais e anunciava suas lives em sua mesa. Já Kaol Porfírio aproveitou a live em sua casa para mostrar a separação dos pedidos recebidos pela plataforma e disse que o ponto forte do Artists’ Valley em 2020 está na preocupação com o crescimento da participação de artistas periféricos, negros, mulheres e LGBTQIA+.
O palco Creators & Cosplay Universe, que hoje foi comandado por Lorelay Fox e Blogueirinha, abriu os trabalhos com uma programação voltada para as crianças em uma contação de histórias sobre cultura africana com a pernambucana radicada no Rio de Janeiro Kemla Baptista. O público mais velho, que aproveitou os tempos de ouro da MTV, também pôde se divertir no painel apresentado pela ex-VJ Sarah Oliveira e que contou com Marina Person, Thunderbird, Didi, Penélope e até Marcos Mion. Outra reunião que agradou quem assistiu pela transmissão do palco foi dos integrantes do Choque de Cultura. No papo, eles falaram sobre humor e cinema, além dos esquetes que acabaram viralizando pela internet.
Masterclass e ativações das marcas
O escritor norte-americano, Mark Waid, autor de ‘O Reino do Amanhã’ realizou a masterclass do dia e explicou quais são os pilares que considera para um bom roteiro. Ele destacou que não importa se o escritor tem experiência ou não, mas existe um caminho a ser percorrido. Em primeiro lugar, saber sobre o que a história trata. Depois, adicionar um obstáculo – que pode ser grande ou pequeno – e, por fim, uma consequência. Segundo Waid, isso ajuda a criar uma direção lógica e, principalmente, ensina ao contador da história detalhes que farão os leitores ficarem presos as páginas. “Ninguém quer ler uma história confusa. Quanto mais se sabe sobre o personagem principal, mais se desenvolver novos bons conteúdos com ele. É fundamental saber se ele é engraçado, valente, quem ama, o que ama e o que o motiva a levantar da cama. Para tudo isso, basta o escritor olhar ao seu redor e absorver, devorar livros, filmes. Alimente sua cabeça! As ideias virão da sua vivência e não de ficar sentado em uma sala”, indica.